On the way home

When the dream came I held my breath and my eyes was closed...

domingo, fevereiro 22, 2004

Da primeira e única vez em que estive em São Paulo já se passaram 22 anos.
O motivo de estar lá não era feliz. Minha mãe tinha perdido um amigo, naquele desastre aéreo em que o avião bateu contra a serra da Aratanha, e haveria em São Paulo uma série de homenagens a ele. Mas para mim a emoção era outra.
Era a primeira vez que eu viajava de avião. Na ida, chorei muito com dor de ouvido - como acontece até hoje. A comissária me levou para conhecer o piloto e a cabine. Adorei aquele monte de comidinha de plástico, naquelas caixinhas bonitinhas. Fiquei espiando a janela e vendo formigas lá embaixo. Me entediei um bocado na escala que fizemos no Rio. Fiquei contando os minutos para contar para as minhas amiguinhas como é que tinha sido. Estava me sentindo importante.
Era julho de 1982 e estava muito frio. Tão frio que eu fiquei surpresa que existissem lugares onde eu tivesse que vestir quatro blusas e, por cima de tudo, uma camisa de lã da minha mãe, que ficava como um vestido, na altura dos meus joelhos. E chovia tanto que eu tive que trocar minhas sandalinhas por uma bota de plástico vermelha que ficou conhecida como "a bota dos bombeiros". Para meu desgosto, foi aposentada quando cheguei em Fortaleza porque aqui não chovia - quando foi chover de novo, no ano seguinte, meu pé já tinha crescido uns dois números e a bota tinha ficado perdida.
Eu me lembro de um dia de passeio especificamente. Eu e a minha mãe atravessamos o Trianon brincando de esconde-esconde, e eu fiquei maravilhada porque eu achava que estava andando num labirinto.
Neste mesmo dia, fomos aos Masp. Eu fiquei horas olhando os impressionistas - Renoir, principalmente, porque era meu sonho ser uma daquelas meninas de vestidinho branco e laço no cabelo.
Quando a gente saiu de lá, fomos comer um cachorro quente - o primeiro da minha vida. "Sem mostarda", pediu a minha mãe e eu nem sabia o que era mostarda.
Eu me lembro também de um teatro, mas não sei qual. Me lembro de prédios, mas não sei em que avenidas ficavam. Eu me lembro de muita gente nas calçadas, mas não me lembro quais gentes nem quais calçadas eram.
Só sei que era tudo grande. Muito maior do que eu. E eu tinha que olhar para cima do tempo inteiro.

quarta-feira, fevereiro 11, 2004

testando